quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Poder da Boina


O poder do “twin set”, o poder da calça jeans, o poder da saia preta abaixo dos joelhos, o poder das botas, o poder dos scarpins de salto médio, o poder do colarzinho de pérolas, o poder do xadrez tipo argyle (aquele com losangos – procurei o nome na internet, não sou tão entendida de moda). O poder das roupas e acessórios. É sobre isso que quero falar.

Eu estive pensando muito sobre o poder das coisas que formam nossa aparência. Os acessórios que mencionei são muito poderosos. Sim, isso mesmo e, não, eu não estou delirando conforme comprovarei.

Eu tinha 33 anos. Estava usando um “twin set” cor de gelo. Para quem não sabe o que é um “twin set”, são aqueles conjuntinhos de blusa. Uma é de mangas curas e decote careca. É usada por baixo de um casaquinho aberto, daqueles bem “vovózinha” sabem? Pois bem, o “twin set” é um clássico. Eu gosto, mas confesso que tenho muito cuidado ao usá-los porque, como estava contando, eu estava com apenas 33 anos usando um “modelito” desses. Meus cabelos estavam presos em um coque. Usava uma saia da qual não me lembro. Saí do banco onde trabalhava e fui buscar minha irmã em seu trabalho. Na época minha irmã estava com 22 anos.

Pois bem. Cheguei à recepção do banco onde ela trabalhava (sim somos uma família de ex-bancários) e disse que iria esperá-la. Minhas irmãs e eu somos muito parecidas e a adorável recepcionista logo notou a semelhança e proferiu a infeliz frase: “Ah, a ‘senhora’ é a mãe da Evelise!”. Naquele momento, levei dois choques: o primeiro porque nunca, nunca em toda a minha vida alguém havia me chamado se “senhora” e o segundo, pior ainda, ela pensar que eu fosse mãe de uma garota de 22 anos!!! Qualquer um sabe fazer esta conta: para ser mãe de uma moça de 22 anos é necessário ter, no mínimo, 40. É claro que existem exceções, mas não creio que tenha passado pela cabecinha daquela jovem qualquer tipo de exceção relacionada à diferença de idade entre mães e filhas.

Lembro que minha visão ficou um pouco turva e a voz saiu gutural: “Imagine se sou mãe de uma moça daquela idade!! Você está pensando o quê? Eu não tenho idade prá ser mãe dela, sou irmã!!!”. Bem, foi mais ou menos isso que eu disse e tenho certeza de que ela nunca mais esqueceu da “mulher” que se ofendeu “só porque ela pensou que fosse mãe de uma funcionária”.

Depois daquilo, o “twin set” foi para alguma caixa de doações de roupas e nunca mais quis vê-lo em minha frente. Passado algum tempo comprei outros, mas sempre tomava o cuidado de usá-los com brincos grandes, cabelos soltos, enfim, de uma maneira rejuvenescedora.

Isso aconteceu há 17 anos. Sim, estou com cinquenta e, hoje, eu percebo que as pessoas continuam extremamente medíocres no quesito “observar os sinais da idade”. Naquela época, com 33 anos, minha pele não tinha um sinalzinho, como não tem até hoje. Bendita herança genética. Estava claro e evidente que eu não poderia ter uma filha adulta mas, a incauta recepcionista sequer olhou para meu rosto. Ela olhou para o maldito “twin set”.

Contei tudo isso porque ultimamente, devido ao frio, tenho usado boinas. Adoro acessórios de cabeça como chapéus, gorros, boinas. Pois bem, foi assim que percebi o “poder da boina”. Ela rejuvenesce. Quando saio de boina atraio olhares masculinos das mais diversas idades e sou tratada por “você” e não “senhora” onde quer que eu vá.

Hoje já estou acostumada com o tratamento de “senhora”. Entendi que, muitas vezes, é apenas educação e respeito, mas houve um tempo em que isso me incomodava muito. E, dependendo de quem é meu interlocutor, ainda incomoda. Não aceito ser chamada de “senhora” por uma pessoa de minha idade. Mais novos podem. Mais velhos também, porque foram educados desta maneira, mas outra cinquentona me chamando de “senhora” certamente terá uma resposta à altura.

Exemplificando o que chamo de resposta à altura devo contar que certa vez eu estava na fila do caixa do banco e uma moça com idade aproximada da minha me pediu uma informação, tratando-me como senhora. Respondi na hora: “Bem, senhora (usando um tom de voz meio fanhoso ao pronunciar ‘senhora’) eu não sei lhe responder, mas a senhora (repetindo a palavra com o tom fanhoso de novo) pode se informar ali na frente”. Falei tudo isso com um sorriso elegante nos lábios. A moça foi inteligente e me respondeu sem ironia: “obrigada, moça!”. Quase nos tornamos as melhores amigas.

Infelizmente, a maioria das pessoas é desprovida de bom-senso e só vê o que quer ver. Lamentavelmente também são desprovidas de inteligência para perceber quem é idoso e quem não é mas, enfim, não é possível ensinar bom-senso. O que se pode fazer é eliminar do guarda roupas os “twin sets”, os colarzinhos de pérola, os scarpins de salto médio e as saias pretas abaixo do joelho.

Aí está a explicação para o título desta crônica: “O poder da boina”.

E vivam as boinas!



  


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